As vagas afirmativas são uma das inúmeras ações possíveis de serem feitas dentro das empresas para garantir times mais diversos e soluções mais completas, afinal, várias cabeças diferentes pensam melhor que uma, ou várias, iguais.
Se você acompanha meus artigos por aqui, sabe que eu valorizo e acredito na diversidade como um grande diferencial das empresas que se manterão fortes no futuro. Nesse artigo que escrevi recentemente, falei um pouco sobre como tratar a D&I o ano todo dentro do seu negócio, hoje, vamos falar sobre como trazer mais pessoas diversas para dentro da equipe.
A Gupy, principal plataforma de recrutamento do Brasil atualmente, divulgou que em 2022, 1% das 600 mil vagas publicadas na plataforma foram para processos seletivos afirmativos. É pouco, mas esse número já mostra o início de uma caminhada para a diversidade e inclusão no mercado de trabalho brasileiro.
Conforme e Gupy, até 2018, as únicas vagas afirmativas disponíveis na plataforma eram para pessoas PDCs, sendo um reflexo da Lei 8.213/91 que regulamenta a contratação de pessoas com deficiência nas empresas. Para negócios com até 200 funcionários, a obrigação é de ter 2% do cargo nesse público, mas a porcentagem aumenta conforme o tamanho da empresa.
A ampliação das vagas afirmativas para outros públicos está se dando em um momento em que as empresas estão investindo em ações de diversidade e inclusão, buscando não só inserir pessoas diversas na empresa, mas também garantir um ambiente seguro para mantê-las no time, afinal, um alto turnover não é bom pra ninguém.
Para mais diversidade, mais inclusão
As vagas afirmativas são muito importantes, mas são uma parte pequena de todo um trabalho que precisa ser realizado dentro das empresas em prol da diversidade. Geralmente, as vagas afirmativas fazem parte de uma leva de ações planejadas para alcançar as metas de diversidade da empresa.
Leia também: Equidade de gênero: quando o CEO quer, a pauta avança.
Se você está por dentro das discussões de D&I, com certeza já teve contato com a metáfora “diversidade é convidar para festa, inclusão é chamar para dançar”, essa frase é da Vernã Myers, VP da Netflix, e resume a necessidade de se olhar para a D&I de forma estratégica e cautelosa, garantindo não só a entrada de talentos diversos, mas a sua manutenção e ascensão desses talentos dentro das empresas.
Por isso, ter uma cultura organizacional inclusiva é um passo importante antes de começar a investir em vagas afirmativas. Para saber mais sobre como eu vejo o impacto das ações de D&I, conheça o texto empresas mais inclusivas, equipes mais felizes.
Diversidade é investimento. Afinal, assim como qualquer pessoa colaboradora, pessoas diversas precisam de espaços seguros e ferramentas de desenvolvimento disponíveis. Para garantir o sucesso dessa empreitada, trabalhar a cultura organizacional é fundamental.
Dica: inclua informações sobre o respeito à diversidade no onboarding de novas pessoas colaboradoras, assim, a cultura organizacional inclusiva começa a se afirmar desde os primeiros passos de cada pessoa da equipe dentro do negócio.
Para que servem as ações afirmativas nas empresas?
Ações afirmativas são políticas que visam diminuir a desigualdade social e econômica da sociedade, dando acesso a oportunidades aos grupos minorizados. Essas ações podem aparecer em forma de bolsas, auxílios, programas e outras ações.
No âmbito público, podem ser consideradas afirmativas uma série de ações, desde a redistribuição de terras, programas como Bolsa Família, PROUNI, FIES, até vagas afirmativas em concursos públicos, universidades e institutos governamentais.
Dentro do setor privado, as vagas afirmativas seguem o mesmo caminho, de garantir a equidade nas oportunidades, priorizando a contratação de pessoas pertencentes a grupos que sofrem discriminação no mercado de trabalho.
As vagas afirmativas dentro das empresas são um compromisso com a sociedade como um todo, reduzindo a desigualdade e permitindo a mobilidade social de pessoas e famílias inteiras. Além disso, elas também trazem benefícios para as empresas, como a fortificação de uma cultura inclusiva, mais inovação e um faturamento maior.
Apesar de algumas polêmicas, é importante lembrar que as vagas afirmativas estão completamente de acordo com as leis, respeitando a Constituição de 1988 e também as diretrizes da ONU, em relação aos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODS).
Para quais públicos podem ser destinadas as vagas afirmativas?
Cada vaga afirmativa deve ser indicada para um público específico. Como eu já falei anteriormente, as realidades e necessidades de cada negócio são muito diversas, então metas de diversidade também podem mudar bastante.
Enquanto uma empresa está buscando colocar 20% de pessoas negras em cargos de liderança, outra está com o objetivo de chegar a 50% de mulheres no quadro geral, às vezes com metas mais humildes ou mais ousadas, mas sempre responsáveis pela própria estratégia.
Considerando a análise interna do negócio, entre os públicos escolhidos para vagas afirmativas estão, especialmente, os listados abaixo:
- Mulheres (em especial para mães ou gestantes);
- Pessoas trans;
- Pessoas negras ou indígenas;
- Imigrantes e refugiados;
- Pessoas 50+;
- Pessoas com deficiências.
Quando realizar processos seletivos com vagas afirmativas?
Um processo seletivo para vaga afirmativa pode acontecer para qualquer área e posição na empresa, uma boa forma de escolher destinar uma vaga para um público específico é olhar pra dentro do time e ver quais são as visões de mundo presentes ali. A partir dessa observação, fica mais fácil perceber onde estão os gaps de D&I no negócio.
Muitas empresas ainda acreditam que talentos diversos precisam ser contratados para a base da pirâmide corporativa, como estagiários, assistentes ou analistas jr., mas essa não é a realidade geral do mercado. É importante contratar e se comprometer com o desenvolvimento de pessoas diversas em início de carreira, mas também é possível ir além.
No caso de muitas mulheres, a vaga afirmativa pode ser uma oportunidade de ascensão de carreira. Afinal, mesmo com os avanços dos últimos anos, as mulheres seguem sendo minoria nos cargos mais altos dos negócios e as vagas afirmativas podem ser uma forma eficiente de reverter esse cenário.
Boas práticas para criação de vagas afirmativas
Para desenvolver vagas afirmativas dentro da sua empresa, é importante prestar atenção em alguns pontos. Assim, será possível garantir não só a contratação, mas a manutenção de talentos diversos dentro do seu negócio.
Para começar, separei algumas dicas do que e como fazer, confira:
Prepare o time de recrutamento e seleção
A equipe de recrutamento é o primeiro contato que qualquer pessoa candidata tem com a empresa, por isso, garantir uma tratativa sem discriminação é essencial.
Antes de criar vagas afirmativas no seu espaço de trabalho, certifique-se de que sua equipe de RH possui o letramento em D&I necessário. Caso ainda não tenha, precisamos desenvolver!
Além disso, sabe aquela lista de universidades que formam as melhores profissionais do mercado? Esqueça isso! A história de que faculdades de elite formam as melhores profissionais já caiu por terra, essa é mais uma forma de incluir colheradas de discriminação nos processos seletivos. Afinal, quem tem acesso a essas universidades?
Pessoas gestoras e profissionais de recursos humanos do mundo estão se atentando para uma questão: o fit cultural. Para além das formações e experiências, em muitos casos, o match da pessoa candidata com a cultura organizacional da empresa tem sido mais importante que qualquer outra coisa.
Faça uma descrição de vaga inclusiva
Para incluir é necessário começar pelo começo. Especialmente em vagas afirmativas, as pessoas estão atentas. Preste atenção nas descrições de vaga e garanta que tudo está sob controle.
Se a sua empresa quer captar pessoas diversas, é importante saber se comunicar com elas. Cada vaga precisa de um cuidado especial na hora de criar uma descrição atraente, mas também é importante se atentar a para o uso de uma linguagem inclusiva.
Atualmente, muitas empresas já estão apostando no termo “pessoas candidatas”, por exemplo, para evitar a exclusão de gênero na linguagem. Pode parecer uma coisa pequena, mas ações como essa podem mudar a imagem que as pessoas candidatas têm da empresa. O employer branding agradece.
Seguindo com o processo seletivo, esteja atenta também para não cometer nenhum deslize durante a entrevista ou em outras fases do processo. Vale lembrar que qualquer pergunta excessivamente pessoal não deve ser feita, em nenhuma ocasião.
Foque nas responsabilidades reais da função
Às vezes, menos é mais. Você quer alcançar o maior número de pessoas possível com a sua vaga? Então, abuse da objetividade. Inclua na descrição da vaga apenas os requisitos realmente necessários e se permita se surpreender.
Uma grande discussão dentro da comunidade de D&I é a necessidade de inglês fluente para participar de processos seletivos. Atualmente, o acesso ao segundo idioma não é difundido no Brasil, por aqui, somente cerca de 5% da população fala inglês.
Quando o mercado de trabalho trata o segundo idioma como essencial mesmo para funções em que a fluência é dispensável, pode estar perdendo talentos incríveis pela inflexibilidade.
Quer saber mais do que eu penso sobre o assunto das vagas afirmativas? Leia o texto Recrutamento inclusivo: passo a passo de como fazer e conte comigo para desenvolver sua equipe e aumentar a diversidade dentro dela.