Essa terça-feira foi o Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha, celebrado sempre no dia 25 de julho. A data foi definida no Primeiro Encontro de Mulheres Afro-latino-americanas e Afro-caribenhas, que ocorreu em 1992, na República Dominicana.
O objetivo de incluir essa data no calendário é promover a valorização das contribuições das mulheres negras para a sociedade. Além disso, é uma oportunidade para chamar a atenção para os desafios enfrentados por essas mulheres, como a discriminação racial e de gênero, a violência e a exclusão social.
Se você ainda não ouviu o podcast Diálogos de Equidade da semana, vale a pena conferir! O meu bate-papo dessa vez foi com a Cleo Santana, Mentora de Inovação Aberta para startups e Diretora de relacionamento e ecossistema na Favela Fundos.
Nesse episódio, que você pode ouvir no Spotify ou no YouTube, trouxemos algumas reflexões sobre como muitos espaços são excludentes para pessoas diversas e como mesmo a linguagem usada em algumas áreas causa um efeito repelente.
Além disso, falamos um pouco sobre a transformação que mulheres negras causam quando ocupam posições de liderança. Afinal, como disse Angela Davis, “quando a mulher negra se movimenta, toda a estrutura da sociedade se movimenta com ela”.
Por que a mulher negra ainda está na base da pirâmide social?
Eu já questionei e repito sempre: as mulheres negras são a maior parte da população brasileira, conforme os dados do IBGE, mas onde estão essas mulheres no mercado de trabalho?
A “base da pirâmide” é uma expressão usada para descrever a camada mais ampla e menos privilegiada da sociedade em termos socioeconômicos. A base representa a maioria da população, constituída por indivíduos com menor poder aquisitivo, menor acesso a serviços e oportunidades. Essas pessoas tendem a viver em condições de pobreza ou vulnerabilidade socioeconômica.
À medida que se avança na pirâmide social, a concentração de riqueza e privilégios vai aumentando e o número de pessoas pertencentes à classe diminui. A posição da mulher negra na base da pirâmide social é resultado de uma combinação de fatores históricos, sociais e estruturais que perpetuam a desigualdade e a discriminação racial e de gênero. Algumas das principais razões são:
Reflexos da escravidão
Nos países que tiveram uma história de escravidão, como muitos da América Latina e do Caribe, a população negra carrega o legado de séculos de exploração, opressão e marginalização. Mesmo com a abolição da escravidão por meio da Lei Áurea em 1888, no Brasil, não houve uma redistribuição justa de riquezas ou políticas efetivas de inclusão para a população negra.
Essa ausência de reparação histórica resultou em dificuldades contínuas para as mulheres negras, como a perpetuação de estereótipos e discriminação racial no mercado de trabalho.
Discriminação racial e estereótipos
O racismo sistêmico ainda está presente em muitas sociedades, prejudicando as oportunidades e o tratamento que as mulheres negras recebem. Estereótipos negativos podem afetar a maneira como são percebidas e tratadas em diversos contextos, incluindo o acesso à educação, ao emprego e à justiça.
“A cada cliente que eu ia, em cada empresa que eu batia na porta, sempre tinha aquele diretor, aquele vice-presidente, aquele CEO que não acreditava que aquela mulher negra ali era a liderança que ia falar com ele. Eles sempre olhavam para três homens primeiro antes de chegar em mim”, contou a vice-presidente executiva e partner de operações da CI&T, Solange Sobral, para a Época Negócios.
Desigualdade econômica
As mulheres negras muitas vezes têm menos oportunidades de acesso à educação de qualidade e aos empregos mais bem remunerados. As mulheres negras frequentemente são empurradas para ocupações informais, enfrentando desigualdade salarial e sobrecargas, perpetuando a sua posição na base da pirâmide social.
Violência de gênero e raça
As mulheres negras estão sujeitas a formas específicas de violência, tanto por sua identidade de gênero como por sua identidade racial. A interseccionalidade dessas duas formas de discriminação pode aumentar o risco de violência moral, física e sexual.
Acesso limitado à educação e saúde
Mulheres negras muitas vezes enfrentam barreiras ao acesso à educação e aos serviços de saúde, o que afeta diretamente suas oportunidades de desenvolvimento pessoal e profissional.
Atualmente, o setor de tecnologia tem crescido muito, mesmo assim, conforme o projeto Preta Lab, mulheres negras ocupavam apenas 11% dos cargos em empresas do setor em 2022, no Brasil. Nessa área, nas universidades, o número de mulheres negras é ainda menor: elas somam somente 3% das matrículas em cursos de Engenharia da Computação.
Ausência de representatividade
A falta de representatividade de mulheres negras em posições de liderança, nas organizações públicas e privadas, com certeza também contribui para dificultar a mobilidade social. Sabemos que muitas políticas públicas e iniciativas não abordam adequadamente as necessidades específicas das mulheres negras.
Para superar essas desigualdades são necessárias políticas públicas efetivas de combate ao racismo e ao machismo, além da conscientização de toda a sociedade na luta por igualdade e justiça social. Nesse lugar, as empresas têm um papel importantíssimo.
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Como sua empresa pode gerar uma mudança na inclusão de mulheres negras?
Antes de mais nada, é preciso compreender a importância da diversidade e da equidade em suas práticas organizacionais. A inclusão da mulher negra não é apenas questão de justiça social, mas é também uma estratégia inteligente para promover a criatividade, a inovação e a eficiência nos negócios.
Isso começa com uma liderança comprometida, que reconheça a importância de promover a igualdade de oportunidades para todas as pessoas, independentemente de sua raça ou gênero. Na hora da contratação também é possível buscar ativamente talentos, através de vagas afirmativas para mulheres negras ou programas de estágio e trainee voltados para esse grupo.
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Uma cultura corporativa que valorize a diversidade e promova a inclusão é essencial para reter e atrair talentos diversos, afinal, é isso que garante o sentimento de pertencimento para todas as pessoas colaboradoras.
Por fim, monitorar, avaliar os resultados e compartilhar informações transparentes da empresa também é uma função das organizações, assim como contribuir para a educação e conscientização de todas as pessoas colaboradoras.
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3 livros escritos por mulheres negras que você precisa conhecer
Quarto de despejo
“Quarto de Despejo: Diário de uma Favelada” é um livro escrito por Carolina Maria de Jesus, uma mulher negra brasileira que viveu na favela do Canindé, em São Paulo, durante os anos 1950 e 1960. Essa obra é uma leitura que aborda a realidade vivida por uma mulher negra em condições de pobreza extrema, proporcionando uma compreensão profunda das questões que afetam as mulheres negras na sociedade até hoje.
Pacto da branquitude
Precisamos aprender a dar o nome para a branquitude e compreender como a cor da pele facilita as interações sociais de pessoas brancas. O livro escrito pela Doutora em psicologia, Cida Bento, ajuda a compreender os pactos narcísicos no racismo. Neste livro, Cida também fala muito sobre o racismo no universo do trabalho.
Quem tem medo do feminismo negro?
O livro escrito pela filósofa, escritora e ativista brasileira, Djamila Ribeiro, aborda questão do feminismo negro, interseccionalidades, racismo, sexismo, representatividade, protagonismo e políticas públicas. Essa obra é uma leitura essencial para compreender as experiências, lutas e desafios enfrentados pelas mulheres negras.
A promoção da igualdade racial e de gênero é importante dentro e fora do ambiente de trabalho. Empresas comprometidas com essas pautas garantem uma força de trabalho mais diversificada e inclusiva, mais inovação, criatividade e faturamento!
Se você precisa de ajuda para trabalhar a equidade dentro da sua empresa, pode contar comigo e com a Mulheres no Comando!