Já imaginou a Bolsa de Valores contar com um índice de diversidade que avalia a responsabilidade das empresas em relação à representação de mulheres e pessoas pretas e pardas?
Fora do Brasil essa já é uma realidade há algum tempo e agora, essa novidade está chegando por aqui. Felizmente, diversidade, inclusão e equidade já são palavras presentes no vocabulário de muitas empresas no Brasil, mas agora isso deverá ser cobrado pelos consumidores e investidores.
Recentemente, uma Resolução (59) da Comissão de Valores Mobiliários do Banco Central do Brasil, passou a exigir que as empresas de capital aberto divulguem dados de gênero, de cor, raça e outros marcadores, através da autodeclaração das pessoas pertencentes aos órgãos de administração e conselhos.
Com essa medida, o BC visa facilitar o acesso a informações relevantes para a discussão a respeito da diversidade e inclusão na administração de companhias abertas, assim como promover a elaboração de estratégias para o avanço do tema.
Em paralelo a isso, surgem também iniciativas voltadas a incluir medidas ESG, com enfoque em aspectos de diversidade, na regulamentação de bolsas de valores, como é o caso do índice de diversidade da B3.
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Afinal, quem é a B3?
B3 é a Bolsa de Valores, Mercadorias e Futuros do Brasil, anteriormente conhecida como BOVESPA. A B3 é responsável por supervisionar e regular as operações do mercado financeiro brasileiro, garantindo a transparência e a integridade das negociações.
Sediada em São Paulo, ela é uma das maiores bolsas de valores do mundo em termos de valor de mercado e volume de negociação, além de desempenhar um papel fundamental no mercado financeiro brasileiro.
Um levantamento feito pela B3 na primeira metade deste ano revelou que 55% das 343 companhias avaliadas não tinham nenhuma mulher na composição da diretoria estatutária, e 36% não possuíam participação feminina no conselho de administração.
Olhando para a questão de raça e etnia, 89% das empresas declararam não ter nenhuma pessoa parda na diretoria estatutária e 90% não têm nenhuma pessoa parda no conselho. A participação de pessoas pretas na alta liderança é ainda menor: elas estão nos cargos de diretoria estatutária em 7 das 343 companhias e estão nos conselhos de administração de 16 empresas.
Apenas esses dados isolados já demonstraram a necessidade de um índice de diversidade nas empresas. Por isso, o IDIVERSA, foi criado pela B3 para tornar os indicadores de diversidade mais populares e padronizados no mercado, garantindo uma comparabilidade entre o desempenho das empresas.
Com isso, espera-se que as empresas brasileiras comecem a adotar melhores práticas em relação à diversidade, inclusão, equidade e pertencimento de mulheres e outras pessoas diversas.
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Índice de diversidade e inclusão IDIVERSA B3
O índice de diversidade, IDIVERSA, surge para fornecer uma referência aos investidores e analistas, para avaliar como determinado segmento do mercado está se saindo em relação à representatividade feminina e negra.
As empresas listadas na B3 agora precisarão contar com pelo menos dois representantes “diversos” no Conselho de Administração ou na diretoria estatutária. De acordo com a nova regra, as empresas devem eleger ao menos uma mulher e uma pessoa preta, parda ou indígenas para compor o conselho ou a diretoria.
As regras também preveem que as empresas já listadas terão até 2025 para comprovar a eleição do primeiro membro diverso e 2026 para o segundo membro.
Além da representação de pessoas diversas no alto escalão das empresas, o índice também trata de políticas de remuneração variável da administração das companhias, que agora terão de incluir indicadores de desempenho ligados a temas ou metas ESG.
Pratique ou explique
As regras desse índice estão dentro do modelo “pratique ou explique”, muito comum no exterior. Nesse modelo, a empresa que não conseguir cumprir o requisito deverá apresentar uma justificativa.
Este regramento não é mandatório, portanto não prevê sanções contra as empresas que não cumprirem. A boa notícia é que a simples existência da regra permite cobranças da sociedade e de investidores em relação à diversidade e inclusão, causando constrangimento às empresas que não se enquadrarem.
Além do índice de diversidade, a B3 tem outras iniciativas relacionadas às questões ESG, como o Índice do Carbono Eficiente (ICO2) e o Índice de Crédito de Descarbonização (ICBIO).
Score da diversidade e inclusão
Dentro da carteira IDIVERSA, os ativos serão ponderados pelo Score Diversidade B3. O primeiro critério para ser bem pontuado é retratar bem a distribuição da população brasileira.
Para a comparação, são usadas as informações do IBGE. Por exemplo, como a população brasileira é composta por 51% de mulheres, é esperado que cada empresa também tenha 51% de seu quadro geral composto por elas. Nesse caso, se companhia tiver só 10% de mulheres no seu quadro, a avaliação dela cairá bastante.
No universo de empresas elegíveis para o índice IDIVERSA, a entrada se baseia em uma pontuação geral que considera a participação de mulheres e pessoas negras em toda a força de trabalho da empresa, considerando alguns critérios, incluindo maior importância da diversidade nos níveis hierárquicos mais altos.
Por exemplo, uma empresa com um Conselho composto por 50% de mulheres resulta em uma pontuação maior que uma empresa com a mesma participação de mulheres em cargos de gestão. Quanto mais alto chega a diversidade, melhor.
Além disso, a avaliação do score da empresa leva em conta também o seu setor de atividade, afinal, é de conhecimento geral que algumas áreas de atuação seguem tendo uma presença majoritariamente masculina por variáveis fatores.
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Veja as 10 empresas mais bem avaliadas pelo índice de diversidade B3
- Banco do Brasil (BBSA3), com 4,4259 pontos.
- Hypera Pharma (HYPE3) com 3,4060 pontos.
- Raia Drogasil (RADL3) com 3,3705 pontos.
- Sabesp (SBSP3) com 3,1427 pontos.
- Renner (LREN3) com 3,0945 pontos.
- Petrobras (PETR4) com 3.0093 pontos.
- Equatorial Energia (EQTL3) com 2,9405 pontos.
- Petrobras (PETR3) com 2,9203 pontos.
- Assaí (ASAI3) com 2,8574 pontos.
- Localiza (RENT3) com 2,7656 pontos.
A criação de um índice de diversidade que mede o comprometimento das empresas com a inclusão e a equidade garante o aumento da reputação da marca, especialmente com o público final, cada vez mais consciente, e com os investidores do exterior.
A comprovação da diversidade na empresa através de um índice permite a mitigação dos riscos ESG. Além disso, empresas mais diversas garantem um impacto positivo nas comunidades em que operam e mais inovação em todo o ecossistema.
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