Você já passou por alguma experiência em que alguém tirou conclusões precipitadas sobre sua personalidade, forma de trabalhar e agir com base apenas em algum pré-conceito estabelecido?
Como mulher, não é incomum ouvir pessoas que, após me conhecerem, contam que tinham uma outra visão de mim, ou que imaginavam que eu lidaria com certa situação de forma diferente. São pessoas que, guiadas por estereótipos de como uma mulher deve se portar ou agir, muitas vezes desenham em suas mentes uma figura passiva, sem voz ativa e poder de decisão – um desenho completamente equivocado e ultrapassado do que é ser mulher na sociedade atual.
Mais do que inconvenientes, os estereótipos são extremamente perigosos quando falamos de construir um mercado de trabalho mais diverso e inclusivo. Vivemos em uma sociedade que tem preconceitos estruturais alimentados por séculos. Por isso, é preciso identificar e derrubar estereótipos em nossas organizações, enxergando e valorizando as individualidades de cada pessoa.
Vamos conversar mais sobre isso? Compartilho neste texto alguns aprendizados sobre o tema.
Estereótipos: eles estão na sua cabeça!
Imagine você, com todas as suas particularidades, crenças, ideias, conhecimentos, formas de ser e de ver a vida, ser colocada em uma caixa que te limita a ser igual a outras pessoas. Dessa forma, você não consegue ser vista como você realmente e passa a ser vista de forma apenas superficial e generalista. É exatamente isso que estereótipos fazem.
Estereótipos foram criados ao longo dos séculos para simplificar e generalizar grupos de pessoas e, assim, facilitar a assimilação no senso comum.
Parece negativo, e é. No entanto, tenho uma notícia para te dar: os estereótipos estão na sua cabeça! Em vez de tomar tempo para entender toda a complexidade da personalidade de alguém, nosso cérebro automaticamente relaciona o que aquela pessoa mostra no exterior (aparência, gênero, raça, naturalidade) ao que já conhecemos previamente que se parece com ela.
Estereótipos vão se construindo em nossa mente a partir de nossas vivências, do que nos foi ensinado e do que vemos na mídia, por exemplo. Com isso, você pode imaginar que, vivendo em uma sociedade que exclui e é preconceituosa com alguns grupos minorizados, os estereótipos que existem sobre esses grupos são extremamente negativos.
Posso te dar um exemplo. Quando você pensa em uma pessoa que é da alta liderança de uma empresa, qual imagem te vem à mente? Provavelmente você tenha pensado em um homem branco de meia idade. Acertei?
O fato de imaginarmos essa imagem, e não a de uma mulher negra executiva, é o resultado do racismo estrutural na nossa sociedade, que coloca estereótipos positivos em alguns grupos (homens brancos) e reforça a exclusão de outros grupos, como o de mulheres negras. Essas por sua vez, geralmente carregam estereótipos negativos.
Como são quase sempre depreciativos, eventualmente os estereótipos se tornam em preconceitos contra grupos específicos e desencadeiam comportamentos como sexismo, racismo e homofobia.
Somos diariamente influenciadas pelos estereótipos que foram moldados em nossa mente ao longo dos anos. Como profissionais e líderes, é nossa responsabilidade entender mais sobre o assunto e desenvolver esforços conscientes para enxergar cada pessoa de forma única.
Estereótipos nos impedem de assimilar diversidade e perceber a riqueza da individualidade. Com isso, nós deixamos de ver o potencial de cada pessoa que passa por nós, enquanto, paralelamente, reforçamos estruturas de exclusão no mercado de trabalho.
7 formas de derrubar estereótipos na sua mente e na sua empresa
Como já falamos aqui no blog, todas nós temos viéses inconscientes, que são crenças construídas ao longo da vida que influenciam nossas decisões no dia a dia. Assim como acontece com eles, com os estereótipos, é preciso um esforço consciente para se afastar deles.
Trouxe a seguir algumas dicas para você desconstruir estereótipos na sua mente e na sua empresa, principalmente se você está em posição de liderança.
1. Reconhecer preconceitos e privilégios
Um primeiro passo essencial é entender de que lugar você fala e como suas ideias e percepções de mundo foram construídas. Um erro comum entre pessoas que não fazem parte de nenhum grupo historicamente minorizado é não querer reconhecer que tem preconceitos, ou mesmo assumir o discurso de que não vê diferenças entre as pessoas.
Quando falamos sobre desconstrução de estereótipos, é muito importante partir do princípio que eles existem em nossa mente. É preciso fazer uma autoanálise a partir de situações do cotidiano para identificar e começar a quebrar esses pré-conceitos que surgem automaticamente em nossa mente.
Se você está em um lugar privilegiado (pessoa branca, cis, heterossexual, classe social média ou alta), é fundamental pensar, por exemplo, que pessoas diferentes de você têm menos oportunidades de chegar aos espaços que você já ocupa por causa dos preconceitos estabelecidos na nossa sociedade.
Isso não invalida seus esforços para estar onde chegou, mas pode te ajudar a usar seu espaço para abrir portas e incluir profissionais de grupos diversos, por exemplo.
2. Abandonar expressões que reforçam estereótipos e preconceitos
As expressões que usamos quando falamos ou escrevemos podem parecer inocentes e apenas vícios de linguagem adquiridos ao longo do tempo. No entanto, muitas delas reforçam estereótipos e preconceitos. Muitas, inclusive, foram criadas com base em preconceitos e viraram ferramenta de exclusão de grupos.
Falar, por exemplo, que algo é “coisa de mulher” ou que alguém deveria ser “mais feminina”, coloca a questão de gênero dentro de uma única caixa, definindo que, quem não está nessa caixa é menos ou mais feminina e pode ou não fazer certas coisas. Viu como é problemático?
Outras expressões como “a coisa tá preta” ou “trabalho de preto” são racistas e reforçam preconceitos que atrelam pessoas negras a problemas e situações ruins. Perceber o uso desses termos, entendendo o que está por trás de cada um, e abolir o uso dos mesmos, é essencial no seu processo de desconstrução de estereótipos.
3. Valorizar individualidades
Como falei anteriormente, nosso cérebro acha muito mais simples colocar pessoas inicialmente parecidas dentro de uma mesma caixa, nos fazendo assumir que elas são iguais.
Para deixar de lado os estereótipos que moram na sua mente, é preciso valorizar a individualidade de cada pessoa, respeitando suas vivências, opiniões, jeitos de ser e de se expressar. Essa é a verdadeira diversidade!
Se você está em posição de liderança, seu papel é estimular a real diversidade de pensamentos e formas de se expressar. Cada pessoa tem uma forma de fazer isso e, desde que seja respeitosa com outras pessoas, ela não deve se sentir tolhida e obrigada a entrar em um padrão de comportamento.
Empresas que conseguem que colaboradores sintam que têm espaço seguro para exercer suas individualidades alcançam o que de fato é diversidade e inclusão, se tornando mais inovadoras e dinâmicas.
4. Ter cuidado com sua intuição
Você é uma pessoa que confia muito na sua intuição? Você costuma dizer que ‘a primeira impressão é a que vale’? Pois talvez seja hora de rever isso, afinal, se temos estereótipos construídos em nossa mente, nossa intuição pode nos pregar algumas peças.
Primeiras impressões sobre pessoas, sem de fato conhecermos quem são e como pensam, podem ser influenciadas pelos nossos preconceitos inconscientes. Dessa forma, seja ao se relacionar com um novo colaborador, liderar alguém diferente de você ou mesmo recrutar talentos, a intuição e as impressões iniciais podem fazer com que você exclua excelentes profissionais.
5. Reavaliar o significado de fit cultural na sua empresa
Ainda falando sobre inclusão dentro das empresas, é muito comum usar o termo fit cultural para recrutar profissionais ou decidir que eles não fazem sentido para o ambiente de uma empresa.
É claro que é importante que haja uma definição da cultura que a organização quer manter, no entanto, também é importante descobrir o que está fazendo parte da definição de fit cultural, para que ela não seja uma forma de excluir pessoas que pensam ou se comportam de forma diferente de um padrão baseado em preconceitos.
6. Criar conexões verdadeiras com pessoas diferentes de você
É impossível desconstruir estereótipos se você estiver em um círculo de pessoas que são, pensam e agem como você. Criar conexões reais com pessoas que vêm de contextos diferentes é um passo importante para entender que nenhum grupo de pessoas é uniforme na maneira de pensar e agir.
Conexões com profissionais de grupos minorizados vão te levar a perceber quais são as particularidades de cada um que os tornam uma potência e quais são os desafios particulares que exigem que o ambiente de trabalho se molde para ser mais inclusivo.
Além disso, se relacionar com pessoas de grupos diferentes do seu evita que você e sua empresa caiam no erro do tokenismo, quando apenas um profissional de um grupo minorizado é trazido para o contexto corporativo e passa a ser a referência de “como se deve ser”.
7. Promover conversas frequentes sobre o tema
Por fim, existe muito a ser conversado sobre o tema estereótipos e preconceitos e, se você está em posição de liderança, pode estimular essas conversas na sua empresa ou no seu time. É apenas falando sobre isso e entendendo de onde vêm nossos preconceitos que conseguiremos quebrá-los e evoluir na nossa forma de ver o mundo e nos relacionar com outras pessoas.
Ter conversas difíceis e refletir sobre como chegamos até aqui é um passo importante para irmos adiante com práticas e ambientes mais inclusivos. Espero que este texto ajude você a evoluir nisso e desconstruir estereótipos. Vamos juntas!