A desigualdade salarial é uma das principais barreiras que as mulheres enfrentam no mercado de trabalho. Mesmo possuindo as mesmas qualificações e exercendo as mesmas funções que os homens, as mulheres recebem salários menores.
Em 2022, a diferença salarial entre gêneros era de 22% mundialmente. Os avanços da última década acabaram sendo interrompidos pela pandemia de Covid-19. Conforme o Global Gender Gap Report, em 2009 as mulheres recebiam 25% menos que os homens, em 2017, no entanto, essa diferença era de quase 21%.
No Brasil é possível analisar os dados com base no Censo de 2010. Esse Censo mostrou que mulheres ganhavam 35% menos que os homens, mesmo possuindo iguais características, como: formação, ocupação, número de horas trabalhadas, mesma idade, raça e região onde mora. Com essas informações é possível afirmar: as mulheres ganham menos do que os homens pelo fato de serem de gêneros diferentes.
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Por que a desigualdade salarial entre homens e mulheres continua?
Muitas pessoas defendem que a desigualdade salarial não tem relação direta com o preconceito de gênero, afirmando que essa diferença se dá pelas escolhas de caminho profissional das mulheres. Mesmo que assim fosse, não seriam as mulheres condicionadas a ocupar funções menos valorizadas?
No ramo das engenharias e da economia, por exemplo, as mulheres são minoria, 20% e 40% respectivamente. Nos questionarmos sobre o motivo de as mulheres não estarem ocupando esses espaços pode ser importante, seria a falta de representatividade feminina a principal razão desses números?
Apesar de se reforçar em alguns aspectos, a hipótese de que as mulheres ganham menos pela escolha da profissão é completamente refutável. Através dos dados do IBGE, a Politize trouxe a diferença salarial de duas profissões renomadas e reconhecidas:
Arquitetura: 60% são mulheres, com salários médios de R$3880 versus R$5188 dos homens.
Medicina: 45% são mulheres, com salários médios de R$7548 versus R$11150 dos homens.
Isso nos mostra que temos dois problemas: incluir mais mulheres e meninas na ciência e em áreas majoritariamente masculinas e olhar para o preconceito de gênero explicitado na diferença salarial entre homens de mulheres ocupando a mesma função.
Para as mulheres, alguns fatores colaboram para a manutenção do preconceito de gênero nas empresas. De responsabilidade da empresa, os cargos de liderança pouco distribuídos entre os gêneros. No âmbito pessoal e social, a sobrecarga por conta de afazeres domésticos.
Mas não é só isso, muitas mulheres ainda não são educadas para progredir no mercado de trabalho, mais afetadas pela síndrome da impostora, as mulheres se candidatam 20% menos às vagas de emprego que os homens, conforme o relatório Gender Insights do LinkedIn.
A maternidade também é um fator de muito desgaste para as mulheres nesse caso. Afinal, mesmo com leis rígidas sobre trabalho e maternidade, a volta ao trabalho é um momento de tensão para a maioria das mulheres, afinal, entre 35% e 51% das mulheres, a depender do nível educacional, é demitida 12 meses após o início da licença, conforme dados da FGV.
Como você pôde ver, esse não é um problema que se restringe ao universo corporativo, a falta ou escassez de dinheiro também é uma grande dificuldade das famílias brasileiras e o desejo de toda a nação deve ser que ela diminua com o tempo, através da mobilidade social.
Entenda porque a desigualdade salarial é uma pauta prioritária
Na sociedade em que vivemos, o dinheiro move o mundo. A mobilidade social é o termo usado para se referir ao movimento ascendente de indivíduos, famílias ou grupos na hierarquia social.
Do ponto de vista ético, a sociedade deve buscar pela justiça pelo seu valor em si. Mas a inserção de novos grupos sociais no mercado de trabalho é uma boa notícia para todo mundo, afinal, conforme o The Economist, países poderiam aumentar o seu PIB entre 5 e 20% se a participação das mulheres no mercado de trabalho fosse parecida com a dos homens.
Além disso, no Brasil, conforme dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, Ipea, em 2015 as mulheres eram chefes de 40% dos lares brasileiros. Um dado mais recente é o de mulheres que receberam o Bolsa Família em 2022, elas chefiam 82% dos lares de beneficiários.
As mulheres também são maioria na universidade. Em 2020, conforme dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira, Inep, 518.339 mulheres concluíram a graduação, contra 359.890 homens. Ainda assim, as exatas são dominadas pelos homens, assim como a engenharia e cursos na área da tecnologia.
Para mudar esse cenário, a sociedade brasileira como um todo precisa começar a abrir os caminhos para as meninas desde a escola, passando pela universidade e chegando ao mercado de trabalho.
Boas práticas para acabar com a desigualdade salarial, começando na sua empresa
Às vezes de forma muito sutil, outras vezes nem tanto, as empresas acabam contribuindo muito para a manutenção da desigualdade de gênero. Se a sua empresa começou a perceber isso e quer mudar esse cenário, você não está sozinha!
Para começar a combater a desigualdade salarial e de gênero dentro da empresa, hoje eu trouxe algumas dicas primordiais:
Inclua a equidade de gênero como meta de negócio
Para que toda a companhia trate um assunto como primordial, é essencial que ele faça parte das metas de negócio. Atualmente, muitas empresas já divulgam publicamente metas como: aumentar em 20% o número de mulheres em cargos de liderança ou atingir 50% do quadro composto por mulheres.
Mas as metas para o negócio variam muito conforme a realidade e localização de cada empresa, para criar metas reais e realmente importantes, vale a pena olhar para dados como: taxa de desligamento por gênero, taxas de avanços na carreira por gênero, retenção de colaboradoras que se tornam mães e a própria questão salarial: homens e mulheres que estão na mesma função recebem o mesmo?
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Faça a revisão de cargos e salários
Pessoas em cargos com as mesmas responsabilidades precisam receber salários iguais. Os planos de cargos e salários ajudam a perceber os gaps e acabar com eles. Além disso, permitem uma gestão melhor do recrutamento e dos recursos humanos.
Lembre-se sempre de manter os salários compatíveis com as responsabilidades e invista em planos de carreira para todas as pessoas colaboradoras, garantindo transparência e muito mais engajamento.
Forneça espaços seguros para o desenvolvimento feminino
Se a ideia é construir a equidade de gênero dentro da empresa, é importante garantir que as mulheres tenham espaços para se apoiar e encorajar mutuamente. Com espaços seguros é possível construir a sororidade entre as mulheres, ao mesmo tempo que destruir a rivalidade feminina.
Leia também: a importância de ter espaços seguros para as mulheres
Invista em novos talentos diversos
Para uma empresa que decide investir em Diversidade & Inclusão como estratégia, formar equipes cada vez mais diversas é fundamental. Para isso, o RH precisa estar ligado e atuante, realizando processos de recrutamento e seleção direcionados.
Essa é uma oportunidade de garantir a igualdade salarial entre pessoas de diferentes gêneros desde a chegada na empresa.
Faça parcerias estratégicas
Se a sua empresa está começando a criar estratégias para a equidade de gênero, a parceria com outras organizações pode ser uma forma de impulsionar a discussão e ações voltadas ao tema dentro do negócio.
Para isso, a equipe pode investir em benchmarking com outras empresas ou contar com uma organização especialista em questões de gênero para auxiliar na educação de colaboradores e construção de metas a curto, médio e longo prazo. Para ficar por dentro do que eu tenho feito por empresas de todo o Brasil, conheça a Mulheres no Comando.
Promova propositadamente a ascensão de mulheres
Se você acompanha meus conteúdos sabe o que eu acredito: ações de inclusão precisam ser intencionais! As mulheres precisam de recursos e espaço para crescer e aparecer. Se a sua empresa ainda não tem equidade nos cargos de liderança, essa pode ser uma excelente forma de começar a acabar com a desigualdade de gênero na empresa.
Invista em suas funcionárias mulheres, para acelerar carreiras, sua empresa também pode contar com os treinamentos e mentorias da Mulheres no Comando. Quer conhecer melhor o nosso trabalho? Venha para esse evento que estamos preparando!
Diálogos de Equidade
Para saber mais sobre esse e outros assuntos relacionados à equidade de gênero no mercado de trabalho, participe do evento Diálogos de Equidade, que acontece no dia 15 de março, no Cubo Itaú em São Paulo.
O Diálogos de Equidade é um evento organizado pela Mulheres no Comando e conta com a presença de profissionais incríveis, como Rodolfo Siro, Chairman do Pacto Global; Carolina Ignarra, CEO da Talento Incluir; Roberta Hummel, Diretora de Sustentabilidade Great Place to Work® Brasil; e Mafoane Odara, Executiva em Recursos Humanos para América Latina.
Confira a programação no Sympla e garanta seu ingresso. Nos vemos lá!