Se você é uma liderança ou uma pessoa engajada na pauta de diversidade e inclusão dentro da sua empresa e está lendo este texto, talvez seja por sentir certa solidão na hora de conduzir conversas e ações. A essa altura, você já descobriu que é impossível que uma estratégia de D&I tenha sucesso se mais pessoas não se envolverem.

Mas como fazer isso acontecer em meio às tantas demandas e objetivos de uma organização?

Mesmo com boas intenções da alta liderança em trazer mais diversidade para a empresa, é frequente o número de casos em que essa pauta vai se esfriando, à medida que temas mais urgentes precisam ser tratados.

Para mudar esse cenário, você precisa engajar líderes e colaboradores no tema e isso vai muito além da adesão às palestras e treinamentos sobre diversidade e inclusão.

Neste artigo, quero te mostrar algumas iniciativas que garantem que diversidade e inclusão virem aprendizados que se tornem reais para cada profissional da empresa e que transforme cada pessoa em uma aliada dessa pauta. 

Diversidade não se faz sem engajamento

De um lado, temos a necessidade do engajamento da alta liderança. Já falei aqui sobre o quão fundamental é trazer C-levels para a briga em relação a equidade de gênero, por exemplo. Quando eles se envolvem, entendendo a raiz do problema e desenvolvendo consciência sobre a necessidade de mudança e os benefícios dessa transformação, o investimento na pauta é priorizado e objetivos reais são criados em relação ao tema.

Imagine o quanto diversidade e inclusão podem avançar na empresa quando você consegue mostrar para líderes – e principalmente para a alta liderança – o quanto empresas mais diversas são mais inovadoras, prósperas e bem vistas por profissionais e investidores? 

Para esse grupo, falar a língua dos números e resultados é essencial, já que investimentos, sejam eles financeiros ou de energia do time, precisam ser muito bem justificados.

De outro lado, você precisa do engajamento dos colaboradores, afinal, são eles que estão no dia a dia da empresa e que moldam a experiência que pessoas recém contratadas vão ter, certo? 

Ele só vem com esforços conscientes tanto das lideranças quanto do time de Pessoas. É preciso que o tema seja constante no dia a dia e que aprender sobre diversidade e inclusão seja tão comum quanto desenvolver habilidades técnicas de cada cargo.

Eventualmente, esse processo de educação sobre um tema pode ser um tanto cansativo, é verdade. Afinal, se você é uma pessoa já conscientizada e engajada em pautas de diversidade e inclusão, deve ter tido inúmeras vezes as mesmas discussões sobre o quanto é importante implementar mudanças no contexto organizacional para trazer mais representatividade. 

Minha dica em relação a isso é: não desanime! Em vez disso, pense que, a cada nova pessoa que se junta a essa luta, você ganha aliados para fortalecer a conversa. Esse efeito de rede ajuda a tirar a sobrecarga de uma só pessoa e, ao mesmo tempo, garante que a cultura da empresa realmente seja mais orientada a diversidade e inclusão.

Como se parece uma cultura com diversidade?

Por falar em cultura, como você acha que se parece uma organização em que diversidade e inclusão fazem parte da cultura corporativa?

Sabemos que cultura se constrói com as práticas e pensamentos de um grupo de pessoas – nesse caso, dos colaboradores de uma empresa. Por isso, quanto mais pessoas são desenvolvidas na área de diversidade e inclusão, mais os ensinamentos e mentalidades começam a se refletir na cultura do dia a dia.

Logo, a empresa vai ver benefícios como:

• inovação com maior pluralidade de pensamentos e espaço para profissionais compartilharem ideias;
• maior índice de satisfação entre colaboradores, gerando mais produtividade e, consequentemente, melhores resultados;
• profissionais que indicam e recrutam pessoas pro time com olhar de diversidade;
• mais naturalidade no acolhimento de pessoas que vêm de grupos minorizados;
• mais interesse de profissionais de grupos diversos nas vagas, e paralelamente, menor rotatividade de profissionais desses grupos;
• melhoria no serviço prestado ao público, já que a empatia é cultivada dentro da empresa e impacta no contato com o mercado exterior.

Como engajar seu time na pauta de D&I?

Desenvolver líderes e colaboradores em diversidade e inclusão deve ser um trabalho de longo prazo e com ações constantes. Esse é um tema que precisa estar presente no dia a dia da empresa, seja em conversas mais informais, seja em treinamentos específicos e pré-programados. 

Separei a seguir algumas dicas para trazer a pauta de D&I em ações de letramento e desenvolvimento da empresa.

Conscientização desde o onboarding

Diversidade e inclusão pode e deve ser um tema desde o dia um de novos colaboradores na empresa. Uma forma de fazer isso é levar o assunto para dentro do processo de onboarding de profissionais. 

Nesse momento, eles estão aprendendo sobre como a empresa pensa, seus valores, código de cultura e políticas internas. É um período ideal para apresentar o manual de diversidade seguido pela organização ou, no mínimo, ter conversas sobre o tema.

Dessa forma, é possível promover um nivelamento no conhecimento que pessoas contratadas pela empresa têm em relação a temas como equidade de gênero, racismo, homofobia e capacitismo. 

Jornadas de letramento para toda a empresa

Se sua organização acaba de despertar para o tema diversidade e inclusão, é possível que haja a necessidade de uma jornada de letramento para todos os colaboradores. Esse é um processo importante para colocar todos na mesma página, aprendendo juntos sobre esses temas.

Jornadas de letramento podem ser sobre assuntos específicos como diversidade racial ou equidade de gênero, ou também podem abordar inclusão de maneira mais ampla, trazendo conscientização sobre práticas inclusivas, grupos minorizados e a importância de se preocupar com o tema.

É importante que haja uma análise do nível de letramento do grupo antes da criação de um material de estudo ou mesmo da contratação de uma consultoria de diversidade e inclusão para tocar esse projeto.

Treinamentos específicos para líderes

Mesmo que lideranças possam participar de jornadas de letramento coletivas, é essencial que conversas específicas sejam desenvolvidas com profissionais que estão à frente dos times e à frente de decisões estratégicas. 

Como já falei, é a partir da conscientização e posicionamento da liderança que toda a cultura pode ser influenciada, tanto para fomentar mais investimentos em diversidade e inclusão quanto para incentivar e ser exemplo para colaboradores da empresa. 

No caso das lideranças, é possível abordar temas mais direcionados, como liderança inclusiva, por exemplo, que trata de como líderes podem ser mais acolhedores e inclusivos com profissionais de grupos diversos. 

Conversas difíceis sobre os temas

Mais uma dica importante para desenvolver realmente as pessoas da sua empresa em diversidade e inclusão é garantir que as conversas saiam do superficial e toquem em temas difíceis. Costumamos falar que é preciso colocar o elefante na sala, parando de evitar pautas delicadas, já que são elas que, quando trazidas à tona, nos fazem refletir e aprender mais.

É preciso provocar homens a falar sobre machismo e práticas como manterrupting e mansplaining, por exemplo. Da mesma forma, pessoas brancas precisam conversar sobre racismo estrutural e privilégios. É apenas com essas conversas que conseguiremos evoluir de fato.

Falar sobre a pauta de D&I não apenas em datas específicas

É muito comum que empresas abram espaço para pautas de diversidade em datas específicas do ano, como Dia Internacional das Mulheres ou Dia da Consciência Negra, por exemplo. O que acontece, nesses casos, é que as conversas acabam perdendo força ao longo do ano, e as discussões em datas específicas ficam superficiais demais, sem garantir engajamento. 

Para que líderes e colaboradores realmente se desenvolvam em diversidade e inclusão é preciso constância, com os temas fazendo parte da rotina corporativa. 

Isso pode ser feito por meio dos canais de comunicação que a empresa já usa para falar de outros assuntos, como talks periódicas de engajamento, reuniões trimestrais, newsletters e grupos de afinidade. 

Espero que essas dicas ajudem você a pensar mais estratégias de sucesso para desenvolver pessoas na pauta de diversidade e inclusão. Seguimos juntas!