Estamos em época de carnaval e eu decidi aproveitar o apelo da data para falar sobre algo que considero muito importante: o desenvolvimento de espaços seguros para mulheres, especialmente dentro do ambiente corporativo.
Os espaços seguros não são necessariamente espaços geográficos, afinal, com o home office e outros modelos de trabalho, o espaço e o tempo ficaram diferentes para muitas organizações. Infelizmente, isso não quer dizer que as mulheres estão livres de passar por situações de assédio e outros constrangimentos no ambiente corporativo.
Hoje vamos falar sobre como os espaços seguros para mulheres estão sendo estruturados dentro das empresas para garantir o bem estar não só físico, mas psicológico para todas as pessoas.
Discriminação de gênero no mercado de trabalho
Para grupos minorizados, o preconceito atravessa e marca as vidas em diferentes esferas da vida, muitas vezes, encontrando ainda mais força no mercado de trabalho. Engana-se quem acredita que violência é apenas agressão.
No caso das mulheres, a discriminação no mercado de trabalho está presente desde a diferença de oportunidades até a falta de equidade salarial, passando por diversas hostilidades e microagressões.
Para começar, apesar de comporem a maioria da população brasileira (51%) e também a maioria de pessoas formadas no ensino superior, as mulheres ainda são minoria nos cargos de liderança das empresas, chegando a 38% dos cargos em 2022 conforme o relatório Women in Business.
Mas este é apenas um dado que exemplifica as barreiras extra que as mulheres encontram no mercado de trabalho por conta do preconceito de gênero. Uma pesquisa realizada pela Barbara Annis Associates apontou que 82% das mulheres se sentem excluídas no ambiente corporativo, seja em reuniões formais, eventos ou até na hora de receber feedbacks.
Esse artigo publicado na revista Harvard Business Review traz informações sobre um experimento realizado com pessoas em posição de gerência nos Estados Unidos e no Reino Unido que mostrou a diferenciação que as lideranças fazem entre funcionários homens e mulheres de maneira muito didática.
No estudo, 1500 lideranças foram separadas em dois grupos, o objetivo de todos eles era escrever um feedback sobre o desempenho de uma pessoa do time. Todas as pessoas receberam as mesmas informações, com exceção de um detalhe, para metade do grupo a liderada se chamava Sarah, para a outra metade, Andrew.
O resultado do teste foi que Sarah recebeu feedbacks “mais gentis”. Em um primeiro momento, isso pode não parecer tão relevante, mas a “bondade” ao avaliar mulheres também é prejudicial para elas, afinal, a falta de retornos construtivos tem uma forte relação com a falta de ascensão feminina no mercado de trabalho.
Mas como você deve imaginar, nem toda discriminação contra as mulheres no mercado de trabalho é baseada em “gentileza”. Todos os dias ouço colegas falarem sobre as dificuldades encontradas dentro das empresas, em especial em espaços mais masculinos.
Manterrupting, bropriating, gaslighting, você já ouviu falar nesses termos? Eles ficaram em alta nos últimos anos e dizem sobre a toxicidade da relação entre mulheres e homens, especialmente no ambiente corporativo.
Manterrupting: basta participar de uma reunião composta por homens e mulheres por alguns minutos para você ver esse fenômeno acontecendo ao vivo e a cores. O “homem interrompendo” é uma prática muito comum quando os homens do time se sentem no direito de terminar as elaborações femininas ou até mesmo mudar de assunto sem a menor cerimônia no meio da fala de uma mulher.
Bropriating: a apropriação de ideias é um ótimo exemplo de machismo no trabalho. Quantas vezes você já viu um homem receber os louros por trazer a público uma ideia que foi desenvolvida por uma mulher? O broapriating é o nome dado a esse fenômeno.
Gaslighting: muito comum em relacionamentos românticos, o gaslighting pode aparecer também no ambiente de trabalho. Esse termo fala de um abuso psicológico, a manipulação realizada por homens para conseguir vantagens sobre as mulheres, nesse cenário, são apresentadas informações distorcidas com a intenção de fazer a mulher duvidar de sua própria memória, percepção e sanidade mental.
Por que as empresas devem se preocupar com a discriminação de gênero?
Acabar com a discriminação e desigualdade de gênero é um dos objetivos da ONU, nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). O objetivo número 5, que trata das questões de gênero, está na Agenda 2030 e deve ser foco das empresas nos próximos anos.
Cumprir as metas de ODS é fundamental para as empresas por diversos motivos, especialmente para garantir a sustentabilidade do negócio. Atualmente, até mesmo para receber investimentos estrangeiros as empresas precisam estar dentro dos parâmetros internacionais em relação às metas para a diversidade.
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Além disso, já falei diversas vezes por aqui que empresas inclusivas são mais inovadoras e lucrativas. Sem contar a diminuição do turnover em empresas com mais investimento em D&I e equidade de gênero.
O mercado de trabalho está em constante renovação e as novas gerações estão cada vez mais exigentes em relação ao bem estar no trabalho. A geração Z (pessoas nascidas de 95 a 2010), por exemplo, está muito mais preocupada com a saúde mental e a humanização do ambiente corporativo.
Além disso, a geração Z começou a clamar por flexibilidade, tanto nos horários como na forma de trabalho, e valorizar espaços que ofereçam reconhecimento pelos esforços.
A próxima geração promete ainda mais mudanças para o mercado de trabalho, mas para encará-las, é necessário primeiro dar conta do que já estamos vendo e ouvindo. Por isso, vamos falar um pouco sobre como refrear o machismo e construir espaços seguros para mulheres nas empresas.
Formas de mitigar o machismo dentro da empresa
Dentro de uma companhia, o machismo precisa ser combatido de diversas formas. Em muitos casos, a cultura organizacional precisa de uma mudança significativa para garantir que mulheres se sintam verdadeiramente seguras.
Conheça a diversidade da sua empresa
Desde os tempos de Aristóteles, equidade significa tratar com igualdade os iguais e desigualmente os desiguais. Conhecer a diversidade da empresa permite pensar em ações na medida certa para construir espaços seguros e inclusivos para todas as pessoas que colaboram com o negócio.
Crie metas e leve conscientização para toda a equipe
A diversidade deixou de ser um acessório e passou a ser fundamental para as empresas. Para garantir que o seu negócio acompanhe o mercado, criar metas explícitas é imprescindível, assim, além de demonstrar interesse em criar ambientes inclusivos e seguros para todas as pessoas, é possível conscientizar toda a equipe com mais facilidade.
As pessoas dão mais valor e visibilidade para as ações internas que estão atreladas às metas do negócio, por isso, não deixe para depois, 2023 é o ano de apostar em metas mais arrojadas para essa área.
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Com as metas criadas, é hora de colocar a mão na massa: crie espaços seguros para o desenvolvimento de pessoas diversas, faça talks, ofereça treinamentos e workshops sobre D&I e equidade de gênero, contribua para a conscientização de todas as pessoas do time. Precisou de ajuda com isso? Pode contar comigo!
Crie espaços seguros para mulheres
Espaços seguros nada mais são que ambientes onde as mulheres se sentem confortáveis para compartilhar experiências e buscar apoio para seu próprio desenvolvimento.
Grupos de afinidades
Os grupos de afinidade são comunidades dentro da organização, formadas por pessoas com interesses e demandas em comum. Os grupos de afinidade proporcionam um espaço de trocas e conexão, sendo uma ferramenta poderosa no empoderamento e acolhimento de mulheres. Você pode ter diversos objetivos ao criar um grupo de afinidade, mas, independente do seu escopo, o principal objetivo é construir um espaço de segurança que vai contribuir para todas as ações que seguirem.
Criar um grupo de afinidade pode parecer mais difícil do que realmente é. Para iniciar esse projeto, basta criar um canal de comunicação na ferramenta oficial da sua empresa, seja o slack, discord ou qualquer outra, convidar o grupo em foco para participar e promover encontros entre os participantes.
Os encontros dos grupos de afinidade podem ser realizados tanto de forma online como presencial. A ideia é que seja um trabalho colaborativo, portanto, depois que você conectar essas pessoas, o grupo tomará forma e decidirá em conjunto as ações que fazem sentido para o cenário da organização!
Canais de denúncia e Código de Ética
Além de conectar as pessoas, também é necessário criar ferramentas institucionalizadas que garantam a segurança de cada uma delas. Um código de ética que contemple tanto questões relacionadas a compliance quanto questões comportamentais é uma ferramenta necessária na criação de um ambiente de segurança.
Mas ter uma política bem definida sobre o que a empresa tolera ou não, é apenas um dos passos. Após essas definições, é importante que seja criado um canal onde as pessoas possam denunciar questões de assédio ou outras discriminações sofridas dentro do ambiente corporativo.
Investigue e corrija atos de discriminação
Com políticas internas e canais de denúncia funcionando dentro do negócio é hora de garantir o acolhimento de pessoas vítimas de assédio ou outras discriminações dentro da empresa.
Antes de dar visibilidade a qualquer ato discriminatório é necessário investigar e apurar os fatos junto ao Comitê de Ética da empresa, garantindo a identidade das pessoas envolvidas resguardada.
Tornar o ambiente de trabalho um espaço seguro para as mulheres e demais minorias é uma missão de todas as pessoas. Por isso, leve para a sua empresa o conhecimento que as equipes precisam.
Conte comigo e com o Mulheres no Comando para organizar eventos e workshops voltados para a equidade de gênero no seu negócio. Conheça também nosso pipeline de liderança, nossos programas de desenvolvimento e certificações. Lembre-se: as empresas do futuro são as que estão mudando o hoje.