As questões de gênero estão sendo mais discutidas no mundo todo e no universo corporativo não é diferente, mas você sabia que, conforme o Fórum Econômico Mundial, se continuarmos no mesmo ritmo, levaremos mais 132 anos para alcançar a equidade entre homens e mulheres?
Conforme o Global Gender Gap Report de 2022, o pior cenário de representação feminina está no empoderamento político, em seguida vem a questão da participação econômica e oportunidades. Mas para além de voltar os holofotes para as mulheres, as empresas precisam olhar para questões de remuneração, carreira, liderança, treinamento, capacitação e promover oportunidades para as mulheres.
Afinal, o que é equidade de gênero?
Talvez você já tenha se perguntado porque falamos sobre equidade de gênero, não deveríamos estar falando de igualdade? A resposta é: sim e não. A equidade é um conceito que apela para o senso de justiça e isonomia, indo ao encontro do princípio constitucional da igualdade: tratar igualmente os iguais e desigualmente os desiguais, na exata medida de suas desigualdades.
Muitas vezes, as empresas precisam se preocupar não só com fornecer condições de igualdade, como salários equiparados entre homens e mulheres, mas também com questões anteriores que podem dificultar a ascensão das mulheres, como por exemplo, combater os vieses que as desfavorecem, tanto no recrutamento e seleção, como no dia a dia do negócio.
Quando criamos regras gerais que visam tratar igualmente todas as pessoas, podemos estar apenas sustentando desigualdades, afinal, pessoas diferentes têm necessidades singulares, tanto para performar no presente, quanto para construir um planejamento para o futuro.
Mulheres e outros grupos minorizados politicamente precisam de um olhar atencioso e singular para as suas diferenças, mas não para por aí. Mesmo dentro do universo das mulheres, há muitas diferenças a serem consideradas: mulheres negras, transgêneras, PCDs, mães e cuidadoras, todas desejam ser consideradas em suas necessidades particulares.
Trabalhar a equidade de gênero na empresa, nada mais é que desenvolver ações corporativas que visem a igualdade de oportunidades entre os gêneros.
Por que falar sobre equidade de gênero?
O Brasil, “país da diversidade”, ocupa a 94ª posição no ranking de desigualdade de gênero entre os 153 países analisados pelo Fórum Econômico Mundial, segundo o relatório que já citei anteriormente.
Mas o que significa exatamente essa desigualdade de gênero? Bom, no universo do trabalho, conforme o Estudo de Estatísticas de Gênero, do IBGE, as mulheres ganham cerca de dois terços do rendimento dos homens, nas mesmas ocupações. Além disso, as mulheres trabalham pelo menos 3 horas semanais a mais que os homens, considerando trabalho remunerado, doméstico e cuidado com filhos e outras pessoas.
Mundialmente, conforme estudo realizado pela Grant Thornton, as mulheres cresceram 11 pontos percentuais nos cargos de liderança nos últimos 10 anos, passando de 21% em 2012 para 32% em 2022.
Conforme a mesma pesquisa, nas posições de liderança no Brasil, elas são 38%. Já nas posições de C-level, elas são pouco mais de 15%. Vale lembrar que 51% da população brasileira é composta por mulheres, conforme o IBGE.
Leia também: Aumentar a liderança feminina deve ser a meta para 2023
Mas a desigualdade de gênero não está só no universo corporativo. As mulheres sofrem violência em todos os espaços sociais, nas ruas, nas escolas e até mesmo na família. A cada minuto, 25 brasileiras sofrem algum tipo de violência doméstica, conforme reportagem da revista Piauí.
Considerando que vivemos em uma sociedade que desvaloriza e subjuga as mulheres, é também papel das empresas conscientizar e desenvolver ações para empoderá-las e incentivar a equidade de gênero.
Papel do RH
O RH tem um papel fundamental na construção e promoção da equidade de gênero dentro das organizações. O time é responsável pela gestão de pessoas e conta com acesso a ferramentas e insights importantes, por isso, é uma área reconhecida como parceria estratégica na busca pela conquista do espaço de mulheres no ambiente de trabalho.
Existem várias maneiras de o RH contribuir para a promoção da equidade de gênero na organização, sendo a implantação da gestão de diversidade uma das mais importantes porque envolve a análise de toda jornada de colaboradores, desde o recrutamento e seleção, gestão de desempenho, treinamento e desenvolvimento, remuneração, até o off boarding (desligamento).
A diminuição ou eliminação de barreiras estruturais é o objetivo principal do RH na promoção dessa pauta. Isso quer dizer construir um ambiente de segurança, onde as mulheres não sejam prejudicadas apenas por serem mulheres.
A maternidade pode ser usada como exemplo: é necessário reconhecer vieses e garantir que o fato de as mulheres serem mães ou pretenderem engravidar não as prejudique. Também é papel do RH criar ambientes que promovam equilíbrio entre vida pessoal e profissional.
Outra questão que é importante de ser abordada e faz parte do papel do RH na gestão de diversidade, são os programas de sensibilização e treinamento para lideranças e para o quadro de pessoas colaboradoras como um todo.
Apesar do RH ocupar um papel estratégico, é necessário que toda a organização esteja “na mesma página”. Investir em palestras, programas de formação de lideranças e política de vagas afirmativas contribuem para que a promoção da equidade de gênero seja uma responsabilidade coletiva.
Papel das lideranças
Recrutar, selecionar e garantir a entrada de mulheres na organização tem muito a ver com o papel do RH, mas a verdade é que, o desenvolvimento, ascensão e retenção desses profissionais depende muito também das pessoas em posição de liderança. A liderança deve reconhecer, antes de tudo, as vantagens de investir em um time diverso e aprender a extrair os melhores resultados dessa pluralidade.
Além disso, é papel das lideranças garantir que oportunidades de crescimento dentro da organização sejam direcionadas de forma justa, considerando o cenário em que o profissional se encontra, suas competências e resultados, sem se deixar enviesar por características como gênero.
Oferecer a orientação adequada para que mulheres possam se desenvolver dentro da organização e ocupar cargos estratégicos, possibilitar a conexão com outras profissionais através de mentorias, investir realmente no desenvolvimento de mulheres para garantir a equidade de gênero, são ações pelas quais líderes precisam se responsabilizar.
Por fim, é crucial que a liderança entenda também seu papel na construção de um espaço seguro e de acolhimento, onde mulheres possam compartilhar as dificuldades encontradas em sua jornada, dúvidas e principalmente suas ambições, onde desejam chegar e quais orientações são necessárias.
Como incluir a equidade de gênero na agenda da sua empresa?
O primeiro passo para que uma empresa alcance a equidade de gênero é incluir a temática nas metas do negócio, caso contrário, as questões de gênero e diversidade acabam se tornando apenas acessórios de luxo para a imagem da empresa (spoiler: todo mundo percebe quando o discurso é da boca para fora).
Para te ajudar a desenvolver a equidade de gênero no local de trabalho, sua empresa vai passar por três estágios:
1. Primeiros passos
É consenso entre estudiosos e profissionais da Diversidade & Inclusão que o primeiro passo ao buscar a equidade dentro do ambiente de trabalho é olhar para dentro: reconhecer o público interno da empresa, ouvir as pessoas colaboradoras e começar a mapear as situações de desigualdade e os gaps de contratação.
É comum que no quadro geral de funcionários uma empresa possua uma equidade nas contratações, mas é preciso olhar com atenção para essas dados e perceber onde estão as pessoas diversas na hierarquia da empresa, para que um negócio possa se dizer inclusivo de verdade, é necessário que as mulheres, pessoas racializadas, PCDs e de gênero ou orientação sexual divergente estejam representadas em todas as camadas da companhia.
Uma boa ferramenta para começar a investir na equidade de gênero, e na D&I como um todo, é a elaboração de um censo de diversidade, que ajudará a reconhecer a pluralidade da empresa e traçar metas para inclusão.
2. Traçando novas estratégias
Após reconhecer o cenário da empresa, há dois pontos chaves para começar a mudar as coisas: a revisão de cargos e salários, garantindo que homens e mulheres recebam a mesma quantia quando estão em mesmo nível hierárquico e a reestruturação do modelo de recrutamento, seleção e planos de carreira, permitindo que as mulheres ascendem em suas carreiras sem as dificuldades extra que experimentam diariamente.
De forma mais abrangente, também é necessário mostrar para todas as pessoas colaboradoras que a questão da equidade de gênero está em pauta na empresa, algumas formas de fazer isso são:
- Criar um comitê de diversidade e grupos de afinidade;
- Realizar eventos e treinamentos sobre a temática constantemente;
- Garantir uma comunicação interna inclusiva;
- Mostrar que o C-level está consciente e participativo nas ações;
- Reconhecer que a equidade de gênero é uma pauta de longo prazo.
3. Rumo à igualdade
Se todos os passos acima já estão no fluxo da organização, é hora de começar a falar em igualdade. É imprescindível que as empresas tenham tolerância zero com qualquer tipo de preconceito.
Para garantir um negócio sem discriminação é necessário apostar na educação, tanto para a conscientização sobre as diferenças, como para a ascensão de pessoas diversas.
Uma boa forma de garantir essa ascensão para as mulheres é promover programas de capacitação exclusivos para mulheres e para isso seu negócio pode contar o Mulheres no Comando. Além disso, construir planos de carreira flexíveis também é uma forma de valorizar as pessoas colaboradoras.
O caminho para a equidade de gênero no mercado de trabalho ainda é longo, por isso, é necessário aquecer os motores e acelerar. Precisando de uma ajuda, pode contar comigo!