A equidade de gênero é uma pauta que atravessa setores da sociedade. Pessoas, organizações e Estado, juntos, podem acelerar a mudança para uma sociedade mais igualitária para homens e mulheres.
Para alcançar a equidade de gênero na sociedade, precisamos da conscientização e atuação de diferentes setores: organizações da sociedade civil (ONGs), academia e pesquisadores, mídia e comunicação, além de instituições internacionais, governos locais e de todas as pessoas individualmente.
No entanto, hoje vamos falar especialmente do papel de dois setores, das organizações estatais e do setor privado. Vamos nessa?
Para ter uma diretriz de quais são os principais objetivos globais quando o assunto é equidade de gênero, podemos e devemos olhar especialmente para o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) número 5 e para o Pacto Global, ambas recomendações da ONU.
Os ODS são um conjunto de 17 metas globais estabelecidas pela ONU para promover o desenvolvimento sustentável, eles fazem parte da Agenda 2030, que visa garantir um mundo mais justo para todos os povos e nações até essa data.
O Objetivo 5, em particular, busca alcançar a igualdade de gênero e empoderar todas as mulheres e meninas, enfatizando a importância de sua participação plena e efetiva em todos os níveis de tomada de decisão na vida política, econômica e pública.
Já o Pacto Global é uma iniciativa da ONU voltada especificamente para as empresas, visando a adoção de práticas de negócios socialmente responsáveis e sustentáveis, incluindo a promoção da igualdade de gênero.
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Papel do Estado para a equidade de gênero
O papel do Estado para a equidade de gênero é fundamental e multifacetado. Por meio de políticas, leis e programas, o Estado tem o poder de influenciar nas relações de gênero e criar condições para que todas as pessoas desfrutem dos mesmos direitos e oportunidades.
Políticas públicas
É responsabilidade do Estado implementar políticas públicas que promovam a igualdade de gênero, começando pelo acesso igualitário à educação, passando por medidas de combate à violência de gênero, até a criação de leis que garantam igualdade salarial entre homens e mulheres.
Incentivos fiscais e subsídios
O governo pode oferecer incentivos fiscais e subsídios para empresas que adotem práticas que favoreçam a equidade de gênero, como programas de licença parental remunerada ou políticas de promoção da diversidade em cargos de liderança.
Tenho falado muito sobre a experiência que tive no Chile recentemente. Nosso país vizinho já conta com incentivos fiscais para a inclusão de mulheres no mercado de trabalho, em especial em posições de alta liderança.
Promoção da representatividade
O Estado pode trabalhar para aumentar a representatividade das mulheres em cargos políticos, bem como em órgãos e instituições de tomada de decisão, incentivando a participação ativa das mulheres na política e em outras esferas sociais.
Campanhas de conscientização
Promover campanhas de combate ao machismo, sexismo e misoginia também é função do Estado. Além disso, promover a conscientização sobre a importância da igualdade de gênero pode ser uma ferramenta para acelerar a mudança da mentalidade e de uma cultura que perpetuam desigualdades.
Apoio aos serviços de suporte
Outro ponto importante da atuação do Estado é o investimento em serviços de suporte, como centros de acolhimento para vítimas de violência doméstica e programas de capacitação para mulheres em situação de vulnerabilidade.
Papel do setor privado para a equidade de gênero
Atualmente, as empresas são mais que espaços de trabalho, elas criam culturas! Por isso, as empresas têm o potencial de exercer um impacto positivo nas relações de gênero dentro da organização, no contato com clientes e stakeholders e na sociedade em geral.
Igualdade salarial
Todas as empresas devem garantir que homens e mulheres que desempenham as mesmas funções recebam salários iguais. Mais que um imperativo moral, no Brasil, a igualdade salarial é lei. Apesar de isso já estar previsto na Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT), a nova lei da igualdade salarial, sancionada pelo Senado, torna mais rígidas as regras e punições.
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Oportunidades de carreira
Homens e mulheres devem ter as mesmas oportunidades de crescimento e desenvolvimento na carreira dentro de uma empresa, só assim poderemos chegar à igualdade de gênero no universo corporativo.
Um pipeline de lideranças bem estruturado e equânime é fundamental nesse cenário, além da organização e divulgação de outras possibilidades de ascenção na carreira e das formações e materiais com objetivo de progressão, especialmente para mulheres.
Políticas de diversidade, inclusão, equidade e pertencimento
O setor privado pode e deve adotar políticas de diversidade e inclusão que promovam a representação igualitária de homens e mulheres em todos os níveis hierárquicos da empresa.
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Licença parental
Uma das principais discussões da atualidade referente à equidade de gênero no ambiente corporativo está relacionada à licença parental. Atualmente, a licença maternidade é de 120 dias e a licença paternidade é de 5 dias, conforme a CLT. No caso das Empresas Cidadãs, esse afastamento sobe para 180 e 20 dias.
A possibilidade de homens e mulheres tirarem o mesmo tempo de afastamento quando a família recebe um novo membro promove uma igualdade dentro e fora da empresa. Esse tipo de política visa retirar a responsabilidade pelo cuidado exclusivamente das mãos das mulheres, desconstruindo um dos principais estereótipos de gênero existentes.
Flexibilidade no trabalho
A flexibilidade no trabalho também é fundamental para que homens e mulheres possam conciliar suas responsabilidades profissionais e familiares. Durante a pandemia de Covid-19, uma pesquisa mostrou que 78% das pessoas entrevistadas gostariam de manter a flexibilidade no trabalho.
Essa flexibilidade é ainda mais importante para as mulheres, que costumam enfrentar duplas ou até mesmo triplas jornadas.
Combate ao assédio e à discriminação
Toda empresa deve adotar medidas para combater o assédio e a discriminação de gênero no ambiente de trabalho, criando um ambiente seguro e respeitoso para todas as pessoas colaboradoras.
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Parcerias com organizações
Outra forma de contribuir para a equidade de gênero é estabelecer parcerias com organizações que trabalham em prol das mulheres e outros grupos minorizados, apoiando iniciativas e projetos que busquem promover a equidade.
Muitas dessas ações podem ser realizadas em parcerias público-privadas, garantindo uma aceleração no processo de mudança para uma sociedade mais igualitária.
Torne sua empresa líder na promoção da equidade de gênero
Todos os dias, me dedico a promover e conscientizar sobre a importância da equidade de gênero nas empresas e na sociedade em geral. Foi por compreender que nós, mulheres, precisávamos de espaços seguros para o nosso desenvolvimento que criei a Mulheres no Comando 4 anos atrás.
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Nesse momento, a organização que desenvolvi com o apoio de tantas mulheres poderosas está passando por uma metamorfose. Nos últimos meses, chegamos à conclusão de que precisamos ir além de conectar e capacitar mulheres para posições de liderança. Sabe por quê?
Porque as mulheres já estão preparadas para ocupar esses espaços! O ponto é que ainda são poucos os ambientes e as organizações que estão engajadas com a pauta da equidade de gênero e conscientes do quanto a real inclusão de mulheres e outras pessoas diversas potencializa os negócios.
Agora, estamos lançando o Equidade ON, um produto desenvolvido para compreender a realidade atual das empresas quando o assunto é equidade de gênero, para posteriormente desenvolver um plano de ação objetivo e eficaz, visando melhorar a representatividade de mulheres e pessoas diversas dentro da empresa.
Para começar essa jornada, o primeiro passo é realizar uma avaliação a partir de sete pilares fundamentais: Representatividade Binária, Pipeline de Liderança, Interseccionalidade, Equidade Salarial, Políticas Internas, Percepção dos Colaboradores e Percepção dos Líderes. A versão freemium da plataforma já está no ar e você pode acessar aqui.
Quer se aprofundar mais no assunto?
No podcast Diálogos de Equidade dessa semana, o bate-papo também foi sobre o papel do Estado e da iniciativa privada na equidade de gênero.
O episódio que foi ao ar na última terça-feira contou com a presença da Clicie Carvalho, Diretora de Projetos no Instituto Justiça de Saia e Gestora do Projeto Justiceiras. Você pode ouvir esse e outros episódios no Spotify ou no YouTube.
Vamos juntos alcançar a tão almejada equidade de gênero?