Apesar de ser uma pauta que necessita de atenção durante todo o ano, novembro nos trás a oportunidade de relembrar e aprender mais sobre feminismo negro.
A participação das mulheres negras na População em Idade Ativa passou de 26% em 2012 para 28,3% em 2022, se tornando o grupo com maior representatividade. No entanto, quando falamos de oportunidades e acesso ao mercado de trabalho formal, ainda existe um gap muito grande para essas pessoas, que representam hoje menos de 3% dos cargos de lideranças dentro das empresas.
Até 1970, o movimento feminista não tinha uma abordagem interseccional e racial, ou seja, não consideravam a dupla discriminação que as mulheres negras passam, tanto de gênero quanto de raça.
Quando falamos de feminismo negro, estamos nos referindo a vertente do Movimento Feminista que olha para as particularidades das mulheres negras. E foi graças ao Movimento de Mulheres Negras (MMN), que em 1970 no Brasil, a pauta de gênero e raça dentro dos movimentos sociais da época passou a ser considerada.
E com um movimento tão novo, é comum que ainda seja necessário avançar e evoluir muito. Ainda hoje, as mulheres negras sofrem discriminação em diversos ambientes e no profissional, não é diferente.
Menos garantias de direitos do que mulheres brancas, menos oportunidades de empregos, menos oportunidades de cargos de lideranças, são apenas algumas das dificuldades que mulheres negras ainda precisam enfrentar no ambiente profissional.
E para que possamos colaborar para mudar essa situação, é muito importante considerarmos a pauta de diversidade e inclusão, dando uma atenção especial especial à interseccionalidade, ou seja, ao cruzamento de dois ou mais fatores sociais que passam a afetar de maneira específica uma pessoa. É o caso de mulheres negras, que, fazendo parte de pelo menos dois grupos historicamente minorizados, acumulam, tanto na vida cotidiana quanto no mercado de trabalho, desafios e pautas específicas.
Construir um mercado de trabalho mais diverso e com equidade de gênero passa pela compreensão dessas pautas e desafios, e pela intenção de tornar a luta coletiva, dando visibilidade e apoio a esse grupo.
Existem diferentes formas de fazer isso e posso destacar a importância de trazer mulheres negras para nossas conversas e estratégias, garantindo mais espaço de fala e de ação.
No entanto, para nos juntarmos a essa luta é necessário, paralelamente, compreendê-la a fundo, estudando o movimento do feminismo negro. Por isso, trouxe neste artigo 5 ativistas negras que são referência no Brasil e no mundo. Ler e ouvir essas mulheres vai ajudar você a ganhar visão sobre a relevância de se unir a essa pauta. Confira!
1. Angela Davis
Um dos principais nomes quando pensamos em feminismo negro é o de Angela Davis, filósofa, professora e autora estadunidense que vem há décadas sendo uma influente ativista pelos direitos das mulheres e contra a discriminação racial.
Angela Davis ficou conhecida por ser uma das principais integrantes do movimento político Panteras Negras e por ter sido presa injustamente na década de 70, passando 18 meses na prisão.
Por conta de suas vivências entre a política e a academia, com passagem pela prisão, Angela Davis traz em sua obra e em seu ativismo esses temas, falando de feminismo negro, racismo, sistema prisionário, liberdade, capitalismo, cultura, entre outros.
A ideia de interseccionalidade, inclusive, é uma das grandes pautas que a autora e ativista traz em suas falas ao longo dos anos, apontando a necessidade de olhar para os cruzamentos entre gênero, raça e classe social. Davis explica que é um erro olhar para uma pessoa sem considerar os outros fatores sociais que a influenciam.
Conteúdos para conhecer o trabalho de Angela Davis
- Livro ‘Mulheres, raça e classe’
- Palestra ‘A liberdade é uma luta constante’
- Participação no podcast Mano a Mano
2. Sueli Carneiro
No Brasil, Sueli Carneiro é um dos grandes nomes do ativismo feminista negro, estando há décadas à frente de movimentos pelos direitos das mulheres e por mais visibilidade e espaço para mulheres negra em posições de influência.
Sueli Carneiro é doutora em filosofia e autora, tendo influenciado a abertura de espaços para mulheres negras no Conselho Estadual da Condição Feminina de São Paulo em 1983. Anos depois, ela foi convidada para integrar o Conselho Nacional da Condição Feminina, onde criou programas especiais para mulheres negras.
A ativista também é conhecida pelo seu importante papel como fundadora do Geledés, o Instituto da Mulher Negra, que foi a primeira instituição com esse propósito em São Paulo.
Em suas obras, Sueli Carneiro traça paralelos entre mulheres negras, desigualdades sociais e espaços de poder, nos ajudando a ver historicamente como o racismo estrutural gerou um afastamento das mulheres desses espaços.
Conteúdos para conhecer o trabalho de Sueli Carneiro
3. Cida Bento
Trazendo a pauta de gênero e raça diretamente para o ambiente de trabalho, Cida Bento é uma ativista negra e psicóloga que tem no centro de sua luta as desigualdades no mercado profissional que afetam mulheres negras.
Cida Bento tem como uma de suas principais obras o livro “Pacto da branquitude”, em que aborda a tese de que pessoas brancas tendem, mesmo que de forma não intencional, a privilegiar e se compactuar com outras pessoas brancas dentro do ambiente de trabalho, dificultando, assim, o acesso e a progressão de carreira de pessoas negras e aumentando as desigualdades no mercado de trabalho.
Suas obras são um convite a refletir tanto sobre o privilégio de pessoas brancas, racismo estrutural e formas de não perpetuar estruturas organizacionais excludentes.
A ativista é diretora no Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades, uma organização não governamental focada em reduzir as desigualdades para pessoas negras no mercado de trabalho.
Conteúdos para conhecer o trabalho de Cida Bento
4. Djamila Ribeiro
Se você já teve contato com alguma literatura sobre antirracismo, certamente já se deparou com o livro de Djamila Ribeiro, ‘Pequeno Manual Antirracista’. A filósofa, feminista negra, escritora e acadêmica brasileira é mais um nome importante dentre as ativistas negras que você precisa conhecer.
Parte de uma nova geração de ativistas negras, Djamila tem uma presença importante nas redes sociais e em veículos de mídia, onde fala sobre temas que envolvem feminismo, política e questões raciais.
Falando de feminismo, é ela a responsável por jogar luz aos diferentes recortes do feminismo, como coordenadora da coleção de livros ‘Femininos Plurais’. Os livros têm a intenção de tornar mais acessíveis temas como lugar de fala, empoderamento, racismo estrutural e colorismo.
Conteúdos para conhecer o trabalho de Djamila Ribeiro
5. Lelia Gonzalez
Mais uma ativista que influenciou o movimento do feminismo negro no Brasil é Lélia Gonzalez, uma das fundadoras do Movimento Negro Unificado contra a Discriminação Racial em São Paulo, na década de 70.
Professora, autora, filósofa e antropóloga, Lélia Gonzalez apontava em sua luta o mito da democracia racial no país, enfatizando as desigualdades, pedindo o fim da violência contra a população negra e a criação de políticas públicas.
Além disso, Lélia trouxe de forma pioneira a discussão sobre interseccionalidade para o Brasil, cruzando fatores de gênero e raça e apontando caminhos que pensassem um feminismo afro-latino-americano.
Conteúdos para conhecer o trabalho de Lélia Gonzalez
É claro que a lista de ativistas negras não se resume a esses cinco nomes. Felizmente, nos últimos anos vemos cada vez mais mulheres negras ganhando espaço na mídia, na política, na academia e no mercado de trabalho. Dessa forma, a pauta do feminismo negro ganha força e novos aliados.
Quer somar a essa lista? Deixe nos comentários obras e conteúdos de ativistas negras que devemos acompanhar!