O texto de hoje vai ser um pouco diferente, normalmente nos artigos aqui tento discutir de maneira embasada as principais temáticas relacionadas ao papel das mulheres no ambiente corporativo para trazer conscientização sobre a pauta. O que nunca te disseram sobre ser uma Mulher no Comando.
Hoje quero ir além e falar do meu papel como mulher e como minha vida me levou a esse caminho de questionamento sobre as mulheres na sociedade e me fez inclusive criar um negócio sobre isso e devo começar sendo muito transparente:
Eu tinha muita dificuldade de me aceitar como mulher quando comecei a compreender o que isso significava.
Eu nasci em uma cidade do interior do Rio de Janeiro, Volta Redonda e fui criada em uma cidade vizinha, Resende, que para quem não sabe abriga a AMAN (Academia Militar das Agulhas Negras) e consequentemente acaba sendo uma cidade tradicionalmente conservadora.
Meus pais não eram muito diferentes, em casa os papéis de gênero eram muito claros, minha mãe cuidava dos filhos e da casa e meu pai tinha esse papel de provedor que dita as regras. Isso sempre me incomodou porque eu via de perto os problemas desse modelo, as coisas que minha mãe se submetia porque acreditava que precisava ser submissa às ordens do meu pai vivendo um relacionamento abusivo e tóxico.
Não me entendam mal, eu amo meus pais e sou muito grata por tudo que eles me ofereceram, são pessoas que deram tudo que tinham de melhor e tive uma infância muito feliz, mas marcada pelo impacto dessa relação.
Então desde que eu me entendo por gente tinha uma coisa muito clara na minha cabeça:
Eu seria uma mulher independente que faria as minhas próprias escolhas e jamais me colocaria em um relacionamento como o dos meus pais.
No geral, as pessoas sempre me viram como uma “pessoa difícil” por ser muito questionadora, por não aceitar que me dissessem como eu deveria me comportar. Desde sempre eu desafiava tudo que achavam sobre mim porque me incomodava as pessoas determinarem quem eu deveria ser simplesmente por ser uma mulher.
Eu saí de casa aos 18 anos para fazer faculdade e me joguei na frente de qualquer oportunidade que eu pudesse me por em prova, me esforçava para ser a que tira as melhores notas, a que entregava os melhores trabalhos, que conseguia os melhores estágios e não ligava para o que estivesse no caminho.
Quando eu me formei na faculdade e consegui primeiro emprego logo de cara tive uma grande decepção porque me demitiram um dia após me promoverem e eu decidi que não iria mais passar por aquilo. Então aos 20 anos criei meu primeiro negócio, participei de um Startup Weekend que me levou a ter acesso a uma aceleradora e foi uma grande imersão no mundo das startups.
Por mais que essa iniciativa não tenha dado certo, definiu meu rumo, e a partir disso entrei para o mercado de tecnologia, que quem conhece, sabe que é extremamente masculina e machista. Durante anos eu me iludi pensando que se eu me misturasse e desse meu melhor eu seria finalmente vista e que ser mulher não seria mais essa grande questão na minha vida.
Eu consegui crescer muito rápido profissionalmente, porque todas as vezes que alguém colocava um obstáculo na minha frente eu era implacável e não tinha medo de me movimentar. Aos 27 anos eu já estava em uma posição de liderança dentro de uma startup ganhando um bom salário, mas percebi que para mim aquilo não era bom o suficiente.
Eu não queria apenas crescer, eu queria ser reconhecida como profissional, e a cada dia eu enfrentava mais desafios e vivenciei situações de silenciamento em reuniões que eu era a única mulher na sala, assédio de homens que trabalhavam comigo, seja como chefes, parceiros, mentores. Sentia constantemente que eu não era levada a sério e que minha voz era cada vez menos ouvida.
E então eu entendi uma coisa que mudou o rumo da minha vida:
Não importava meu esforço ou minha competência, eu era sim uma mulher e iria para sempre ser vista a partir deste lugar. Não estava no meu controle e se eu queria algo diferente eu teria que mudar a sociedade.
Chegar a essa conclusão foi muito difícil, tive que conversar com muitas outras mulheres para entender que eu não era a única a me sentir assim, e foi ao mesmo tempo libertador e triste perceber o número de mulheres que também viviam exatamente as mesmas coisas e, que assim como eu, sempre achavam que o problema estava com elas.
Então no final criar o Mulheres no Comando foi a única resposta possível de querer mudar o que eu enquanto mulher não poderia mais tolerar. Ser uma mulher no comando é entender o que não podemos mais “engolir”.
Se você que leu todo esse texto e se identificou com a minha história saiba que esses sentimentos são reais e que você não está sozinha, mas precisamos reunir todas nossas potências e coragem para que o mundo possa nos ver pelo que realmente somos, e que se individualmente fizermos essa transformação e reverberarmos essa mensagem para outras mulheres, não existirá nada que não possamos alcançar, afinal, como diria Nelson Mandela:
Tudo é impossível até que seja feito.
Vamos juntas?