A semana começou com Anitta e Nubank fazendo uma parceria que estremeceu o mercado financeiro brasileiro. A cantora, empresária e artista agora é membro do Conselho de Administração do banco, e as opiniões ficaram divididas no mundo corporativo.
De um lado, muitas comemorações, principalmente considerando o que Anitta representa para a pauta da inclusão de diversidade. De outro, críticas de quem acha que ela é apenas mais um golpe de marketing.
Neste post, falaremos sobre como essa análise extremista pode ser perigosa. E, como nós, mulheres, precisamos ter o cuidado redobrado quando criticamos uma mulher que está no comando.
Anitta e Nubank: golpe de marketing ou estratégia de business?
Uma das maiores falácias do mercado continua sendo desvincular a área de Marketing de todas as outras. Bem, é claro que a persona midiática de Anitta é importante para a comunicação do Nubank.
O problema é que, quando usamos a palavra golpe, além de tirarmos todos os ganhos da visibilidade de Anitta no marketing, também tiramos a potência da visão dela como empresária.
Além de cantora, Anitta é uma das maiores empresárias do Brasil, com uma fortuna avaliada em R$ 533 milhões pela Forbes, reconhecida mundialmente e com experiências de sucesso com o marketing da sua carreira desde 2014.
Ao redor dela, estão grandes marcas, uma cadeia produtiva que lucra muito e um time de colaboradores que constrói, todos os dias, a artista como um grande case.
Da mesma forma, também é inegável que as parcerias feitas com outros grandes artistas mostram o quanto ela é boa de networking. A lista é gigante quando falamos do potencial de Anitta para o banco, e o Conselho enxergou isso. A pergunta é: por que não conseguimos enxergar?
1. Porque somos machistas, e isso é estrutural
Quando um homem assume um cargo de poder, estamos acostumados a aplaudir. Quando uma mulher assume, queremos procurar um bom motivo para que ela esteja lá. Saiu com algum diretor? Se aproveitou de alguma situação? É golpe?
Além disso, a sexualidade de uma mulher sempre vira pauta. A forma com que ela se veste, o jeito como fala, os relacionamentos do passado… Nos acostumamos a ver casos de grandes executivos traindo suas esposas, assediando lideradas e jogamos tudo debaixo do tapete. Anitta não pode usar biquíni para estar em um cargo de confiança de um banco? Por que isso virou pauta?
Precisamos começar a falar de mulheres de sucesso como mulheres de sucesso que são. Você pode até não gostar da música da Anitta, mas não pode negar que ela é uma potência.
2. Porque ainda achamos que o brilho de uma mulher apaga o da outra
Anitta está ao lado de outras mulheres incríveis no Conselho do Nubank. Anita Sands, professora da universidade americana de Princeton e ex-diretora de operações do banco suíço UBS, e Jacqueline Reses, ex-presidente da fintech Square e atual presidente do Conselho Consultivo Econômico do FED, o banco central norte-americano, são nomes de renome.
E o que mais ouvimos essa semana foi que era um desrespeito Sands e Reses terem que dividir a mesa com a Anitta. Como assim? O brilho de uma apaga o das outras?
E mais do que isso: por que nós, mulheres, nos incomodamos tanto com o crescimento de outras mulheres? Não precisamos disso. Não é possível comparar uma história com outra, uma trajetória com outra, e é possível que todas nós tenhamos sucesso.
3. Porque nos ensinaram a competir ao invés de aplaudir
A competição feminina tira mulheres do mercado, alimenta uma cadeia de ódio e propaga uma rivalidade que nos impede até mesmo de fazer networking.
Estamos comentando nas publicações umas das outras sempre nos criticando, buscando falhas, apontando erros e, sinto dizer: não vamos longe se continuarmos assim.
4. Porque nossa visão de mercado não consegue vincular áreas do negócio
Vendas e Marketing precisam andar de mãos dadas. Uma estratégia impacta diretamente na outra, e separar o negócio pode afundar uma empresa. É esse o conceito trazido por tantas startups, incluindo o Nubank.
Anitta vende, Anitta comunica, Anitta abraça uma fatia de mercado interessante ao banco e tem muito a dizer. Estar em um Conselho não significa presidir uma empresa e comandar tudo. Se bem que, se estamos falando de sucesso, não seria má ideia.
5. Porque uma mulher no comando sem uma trajetória tradicional ainda incomoda
Anitta não esteve nos palcos das faculdades de Harvard, mas é um fenômeno mundial. Não é um diploma que define o sucesso dela, e não é um diploma que define o sucesso de nenhuma mulher.
Eu sei, nós temos um tempo de formação formal muito maior do que o dos homens e, por anos, precisamos ralar muito para alcançarmos postos de comando. Mas o que define a nossa capacidade é um conjunto de soft skills. E Anitta gabaritou para o Nubank.
6. Porque o mundo corporativo também dança funk, só não quer mostrar
Chegou a hora de tirarmos o blazer do preconceito e abraçarmos as mudanças do mercado com muito mais leveza.
E, pasmem, dá pra ser leve sem perder a credibilidade. Dá pra falar de finanças sem ser em código morse. Dá pra dançar Vai Malandra e ser uma grande líder. Se você quiser.
Mulheres, uni-vos! É tempo de revolução, e nós vamos chegar lá juntas!