Não é segredo para ninguém que a saúde mental das mulheres piorou muito após o período de pandemia, e atitudes tóxicas pioram isso. Segundo a pesquisa da McKinsey, 1 em cada 3 mulheres consideraram deixar seu ambiente de trabalho ou reduzir a carga horária.
Isso tudo faz parte de um cenário mais amplo de saúde mental do mundo, mas que quando falamos de adicionar camadas de desafios enfrentados pelas mulheres no ambiente de trabalho, ela se torna ainda mais pesada e tem consequências diretas na nossa participação e crescimento profissional.
O problema é que esse é um daqueles assuntos que nos deixam desconfortáveis porque provoca conversas difíceis sobre situações dolorosas, sobre sentimentos e que se investigar mais a fundo, iremos descobrir que precisamos mexer em muitas coisas no pensamento e na postura das pessoas em relação ao trabalho.
Levantei então 3 atitudes tóxicas que acontecem no dia a dia de trabalho das mulheres para que possamos tirar o tabu e discutir abertamente sobre elas.
1 – Manterrupting
Quando uma mulher não consegue concluir sua frase porque é constantemente interrompida pelos homens ao redor. Uma atitude tóxica clássica.
Uma situação que todas nós já vivenciamos:
Estamos em uma reunião super importante para definir os próximos passos de um projeto, você quer muito contribuir e trazer seus pontos de vista, inclusive se preparou muito bem antes da reunião para trazê-los.
Porém, quando aparece a oportunidade e você começa a construir um raciocínio, alguém te corta e muda o rumo da discussão.
Segundo um estudo realizado em 2014 na Universidade de George Washington essa situação tende a acontecer porque as mulheres são duas vezes mais interrompidas que homens em conversas neutras.
Isso quando temos a oportunidade de nos posicionar já que Segundo a pesquisa “Desigualdade de Gênero em Participações Deliberativas” os homens falam durante 75% do tempo em discussões de trabalho.
O que pode ser feito:
Levar aos times essa situação para que todos possam ter consciência de que essas dinâmicas acontecem e incentivar uma cultura de interromper quem interrompe outras mulheres.
Usando frases como:
“Eu acredito que sua contribuição é muito importante, mas a Maria estava concluindo seu raciocínio.”
A conscientização dos indivíduos sobre seu papel na transformação da cultura do ambiente de trabalho é uma das coisas mais poderosas para lidar com essas micro agressões.
Do nosso lado, todas nós podemos e devemos nos posicionar, continuar falando, interromper quem te interrompeu. Já temos feito isso e é algo realmente desgastante e cansativo, então precisamos mudar também os ambientes ao nosso redor.
2 – Bropriating
Quando, em uma dinâmica de trabalho, um homem se apropria da ideia de uma mulher e leva o crédito por ela. Essa situação aconteceu muitas vezes ao longo da história, existem casos famosos de descobertas e trabalhos de mulheres que historicamente foram atribuídos aos homens.
Como é o caso da Ada Lovelace, que atualmente é considerada a inventora do primeiro software de computador da história, mas esse crédito foi negado pelo historiadores por muito tempo alegando que dizer
“Ela era uma maníaca depressiva, com as mais inacreditáveis alucinações”
As mulheres não eram consideradas nem dignas da inteligência para tais criações e muitas vezes para ter seu trabalho exposto ao mundo, se escondiam atrás de pseudônimos ou escreviam de forma anônima.
Como o caso da escritora Mary Shelley e sua obra “Frankenstein”, em que por muito tempo acreditaram que seu marido Percy Shelley seria o autor.
Quando trazemos isso para os dias atuais sabemos que, ainda que de uma forma diferente, isso acontece, porque os vieses nos fazem acreditar que uma ideia pode ter mais “credibilidade” se vier de um homem.
Vemos isso no empreendedorismo, por exemplo, menos de 2% dos negócios criados por mulheres recebem alguma forma de apoio ou investimento.
3 – Mansplaining (a atitude tóxica de quase toda empresa majoritariamente masculina)
É quando um homem dedica seu tempo para explicar algo óbvio a você, como se não fosse capaz de compreender, afinal você é uma mulher.
O livro “Os homens explicam tudo para mim” da autora Rebecca Solnit retrata em seu texto uma situação em que ela estava conversando com um homem considerado importante em que ele falava muito bem do livro “Rio das Sombras: Eadweard Muybridge e o Faroeste Tecnológico.”
Na conversa o homem em questão explica para Rebeca todos os pontos sobre a perspectiva do autor, sendo que ela própria era a autora do livro. O ensaio de Rebecca Solnit ganhou grande destaque, a ponto de contribuir para que se cunhasse um novo verbo, mansplaining, junção das palavras man (homem) e explaining (explicação).
Resumindo, os homens explicam coisas que não deveriam explicar, que deveriam apenas ouvir. A frase central da Rebeca para essa discussão:
“A credibilidade é uma ferramenta básica de sobrevivência.”
Essas atitudes tóxicas citadas aqui são apenas algumas das muitas ferramentas de silenciamento da voz feminina em nossa cultura patriarcal, que em última instância culmina em violência e assassinatos, tão frequentes nas manchetes dos jornais.
Não podemos apenas olhar para o lado e fingir que essas coisas não existem, precisamos que essa discussão aconteça de maneira efetiva dentro das empresas, criar espaços seguros para falar do que vivemos e de pensar em caminhos que nos levem a um cenário diferente do que temos hoje.